O ônibus parou lentamente, pai e filha desceram na parada de uma pequena praça, traziam consigo apenas algumas malas e expectativas. A imagem do ônibus levantando poeira e se afastando jamais sairá da memória de Miguel, as flores e os balanços amarelos daquela singela e acolhedora praça encantarão para sempre a pequena Bárbara. O pai era um homem esbelto, de cabelos escuros desarrumados e olhar incisivo, a filha parecia um menino, enfiada em calças jeans surradas e usando um boné vermelho colocado de forma displiscente. Estavam em uma nova cidade, os olhos de Bárbara brilhavam, ela queria saber tudo, Miguel pensava no que iam fazer, desejava saber todas as respostas, para todos os problemas.
O sol das duas da tarde estava forte, e os dois procuravam uma sombra. Ao ver o suor escorrer pelo rosto de seu pai, Bárbara tirou o boné e ofereceu-o, Miguel sorriu, abaixou-se, arrumou os curtos cabelos da filha e beijou-a, enquanto recolocava o boné em sua cabeça. Pai e filha não demoraram muito para encontrar um banco protegido por dois imponentes ipês. O banco ficava de frente para a estátua de um importante general, que lutou pelo império brasileiro, para Bárbara era um homem esquisito usando roupas feias, para Miguel, alguém que ele jamais conseguiria ser. A filha pediu ao pai quem era o homem montado no cavalo, ele respondeu que foi um grande homem, que defendeu a liberdade, e que existiam mais desses hoje em dia, só que não ganhavam mais estátuas.
Miguel retirou sua preciosa câmera fotográfica e preparou-a para sua filha. Gostava de vê-la tendo contato com a fotografia, acreditava que ela seria uma fotógrafa muito melhor do que ele. Alguns minutos depois entregou a nikon nas mãos magrinhas de Bárbara e pediu a ela que fotografasse o herói que ali estava. Sem pestanejar, a pequena menina empunhou a máquina, fechou o olho, umedeceu os lábios com a língua, procurou o melhor ângulo e fotografou com a perfeição de uma criança. Bárbara acabou se tornando uma grande fotógrafa, conseguiu algumas das melhores imagens da guerra do golfo, mas a foto que mais gosta é uma de seu pai, de jaqueta marrom e calças empoeiradas, tirada em uma pequena praça de balanços amarelos.
Um comentário:
ADOREI!!!
essa "imagem" me emociona. É um jeito bonito de me ver, de ver meu pai, de rever a infânia.
Obrigada por esse carinho,por esse olhar.
Um beijo meu querido amigo!
e como sempre continue a sua órbita, continue escrevendo...que eu to do outro lado semprelendo.
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