26 de mar. de 2008

O SER E O SER

Eu vi corpos artificiais e vazios receberem um punhado de órgãos e serem animados com descargas elétricas. Eles conseguiam ficar de pé, se movimentavam, eram capazes de se manter vivos, respiravam, comiam, dormiam, falavam, escutavam, funcionavam perfeitamente bem. Seus criadores não tiravam os olhos dos gráficos que coloriam as telas dos computadores, conseguiam monitorar o funcionamento de suas criaturas sem olhar para elas, baseavam-se nos números fornecidos pelos programas.

Pouco tempo depois os vi espalhados pelas ruas, em meio às pessoas, caminhavam pelas calçadas, dirigiam automóveis, trabalhavam, estudavam. Menos de duas décadas depois já era difícil saber quem era natural e quem havia saído de um laboratório. Não se sabia exatamente o motivo desse fenômeno, alguns achavam que a capacidade de aprendizado das criaturas desenvolveu-se rápido, outros, dentre eles eu, diziam que a raça humana havia se tornado apática e funcional, assemelhando-se às criaturas.

Algumas pessoas afirmavam serem capazes de notar a diferença entre humanos naturais e humanos artificiais. Elas diziam que os humanos naturais possuíam algo no olhar, uma espécie de brilho, que ia além da vida biológica. Até então, a única maneira de saber quem era natural se dava por meio de testes que analisavam a degradação do tecido cerebral. Pessoas apontadas por esses “sensitivos” como sendo naturais foram submetidas aos testes, algumas delas foram diagnosticadas como artificiais. A maioria acreditou na ciência, eu fui um dos que acreditou nas pessoas, fui acusado de ser artificial e jogado numa cela, como sendo uma falha.

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