Clara e as nuvens passeavam pelos arredores do que um dia foi uma fábrica de produtos químicos. No céu, as nuvens encobriam o sol, no chão, Clara descobria um pequeno e silencioso bosque logo atrás de um imenso galpão que a ferrugem devorava impiedosamente. Clara entrava lentamente no pequeno amontoado de árvores e arbustos, se esforçava para imitar o silêncio do belo bosque, na tentativa de sentir-se bela também, não queria incomodar.
Dentro da cidade, envolta pela mata, a menina de onze anos imaginava como seriam as coisas no futuro, quando tivesse uns onze anos mais. De olhos fechados, ela se via entrando em uma selva de pedra, repleta de prédios, barulho, agitação. O sol realçando seus cabelos coloridos, esquentando uma pele clara coberta de tatuagens, as marcas que resolveu gravar, aquela mesma arte de menina, das folhas de caderno. Não era mais Clara, não tinha por que ser, era uma nova pessoa, de certa forma, podia ser Carla, mesmas letras, lugares diferentes, tempos distintos.
Ao abrir os olhos, a menina deparou-se com uma crisálida pendurada em um fino galho. Lá dentro uma lagarta começava sua extraordinária transformação, ou será que já era uma borboleta prestes a sair? Clara observava aquela estranha criatura, que se escondia para mudar, mais ou menos como ela, escondida no bosque, tendo suas idéias de metamorfose. Do interior do minúsculo bosque, uma bonita borboleta saiu, batendo asas negras manchadas de rosa. Uma mulher corria feito uma menina atrás da borboleta, cabelo lilás ao vento, tatuagens escuras na pele, sorriso no rosto, em direção à cidade.
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