Foi dito que o início e o final, juntos, formam a estória, criam o sentido, fornecem a resposta. Dizem que, nos momentos onde a razão aponta para a desistência, só é possível ir adiante ignorando o lógico, fechando os olhos e unindo as mãos. As montanhas são maiores, mais antigas, mais resistentes, mas sempre disseram que elas podem ser removidas. Alguns dizem que um livro grosso é o guia da humanidade, com valiosos ensinamentos expostos ao longo de sua extensa narrativa. Outros afirmam que nunca existiu um Jesus de Nazaré.
Não é fácil aprender a arte da rima, pode ser mais complicado do que se imagina. É preciso aprender, ter conhecimento, é necessário ler, chegar a um desenvolvimento. Quem sabe rimar não é necessariamente um gênio, nem merece qualquer prêmio. Alguns rimam amor com dor, algo sem real esplendor, outros combinam hipoteca e bicicleta, coisa de fraco poeta. Quando se sabe rimar é possível fazer poesia, concebida ao raiar do dia, recitada em casa vazia. A estrutura não importa, pode se rimar até na redação mais torta, Drummond de Andrade não se revolta.
Acontece que choveu, e todos os planos para aquele dia iam por água a baixo. A visita ao parque, as risadas malcriadas que sempre escapam, o pôr do sol na beira do rio, os cílios que caem nos olhos provocando lágrimas mecânicas, nada disso aconteceria. Uma pena, mas não era para ser, se não a chuva não teria caído afinal, coisas assim não acontecem à toa. Havia a televisão, ia passar um filme bom, o gato rondava o sofá, um aroma de chá chegava até a sala, a decisão já estava tomada. Quatro batidas na porta, um leve susto, uma grande surpresa, parada lá fora, usando uma capa de chuva amarela e segurando outra vermelha, Ana sorria, não era o sol, e nem precisava ser.