Quando acordo já sei para onde vou, sei o motivo, conheço o caminho e as pessoas que lá estarão... Mas não sei se é realmente necessário ir, se os motivos que me movem são de fato importantes, nem consigo imaginar o que poderia acontecer se eu não fosse para onde sempre vou. Reconheço a voz do outro lado da linha, sei quem está falando, amigo de longa data... Infelizmente não entendo o que ele está dizendo, o sentido da mensagem foge à minha compreensão, não estou conversando mais com o amigo de ontem, é ele quem está falando comigo, e é hoje.
Já deveria ser amanhã, para eu ser tão velho quanto dizem que já sou, eu sei de tudo isso, não sou louco... Mas continua sendo ontem, não consigo provar que já deixei de ser jovem, não me importaria de fingir, pelo menos não receberia mais doses cavalares de drogas pelo ouvido. Gostaria de ter uma companhia para caminhar, eu sei que cruzar os dedos não faz alguém aparecer, sei também que cada pessoa segue uma trilha própria em um confuso labirinto... Dizem que há um labirinto, não vejo nenhuma divisória ou parede, por isso fico admirando os passos alheios e esqueço de andar.
Dizem que sou alguém, pois tenho um nome, documentos e um rosto... Sou alguém que sabe fazer certas coisas, o que sei fazer não me faz ser alguém, mas já vi reconhecerem alguém pelo que sabia fazer, se alguém não sabe fazer nada dizem que nem chega a ser alguém, eu sei. Quem sabe eu seja um vetor, uma forma de vida que carrega e transmite um agente infectante. Minha psicóloga, os sociólogos da cidade e os filósofos do mundo não sabem, ainda, se o que estou disseminando é benéfico, inútil ou perigoso, não souberam me dizer.
Um comentário:
Estou aqui. Absorta nos seus pensamentos e lembrei de Guimarães Rosa dizendo que "viver é muito perigoso". Belo texto, Marcelo, bem escrito e instigante.
Bju,
carpe Diem!!!
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