26 de jan. de 2010

SANGRAR


Um vento gelado forma marolas em uma poça de sangue que colore de forma funesta uma gasta calçada. Um homem estivera sentado naquele local por alguns instantes, tempo suficiente para deixar seu rastro, sem saber que o fazia. Ele nem mesmo havia percebido que sangrava, só sentia uma dor incômoda, constante, da qual não conseguia se livrar. Sua tentativa de aplacar tal dor foi o que acabou levando-o até aquele lugar, pois decidiu caminhar um pouco, a fim de espairecer. Na verdade queria esquecer uma porção de coisas, mesmo sabendo que não atingiria tal objetivo, pelo menos não naquela mesma tarde, quem sabe nunca conseguiria tal façanha, era nisso que pensava, era por isso que sangrava.
É possível ver diversas gotículas vermelhas espalhadas pela ruela que conduz para fora do simpático parque da cidade. A rua estreita e repleta de volumosas árvores foi percorrida às pressas pelo homem ferido. Ele sentiu-se ameaçado pelas pessoas que viu andando no parque, podiam querer interrogá-lo, perguntar acerca de suas roupas desajeitadas e amassadas, ou da palidez do rosto. Concluiu que fora uma péssima idéia ter ido até lá, mesmo tendo visto os patos nadando tranquilamente no lago, ou os pássaros saindo furtivamente do interior de vistosos arbustos. Aquelas cenas simples e corriqueiras acalmaram seu espírito e até abrandaram levemente seu sofrimento, mas bastou ver novamente os inquisidores olhos do ser humano para que a dor aumentasse.
Uma moça de semblante triste observa, intrigada, algumas manchas vermelhas em sua camisa branca. Algumas horas atrás, o homem machucado discutiu com essa mulher, que agora vê o sangue dele impregnado em sua roupa. Ele sentiu uma punhalada quando a ouviu dizer que não era culpada pelo ferimento aberto em seu peito. O homem tinha certeza, não havia ferida alguma antes disso, tudo acontecera naquele instante. Ao perceber isso, o medo tomou conta, e ele saiu correndo, sem rumo, estava confuso, pois fugia do amor de sua vida. Sua amada permaneceu imóvel, com os braços suspensos no ar, como se ainda abraçasse aquele homem ferido que se distanciava.